sexta-feira, 15 de maio de 2015

A cadeia de males do DDT

Centenas de milhões de anos foram necessários para produzir a vida que habita na Terra, algumas vidas foram extintas, outras se desenvolveram, evoluíram, se estendendo por todos os continentes até que alcançassem um estado de equilíbrio com o meio ambiente.
O homem, porém, é o único ser capaz de destruir, ás vezes, de modo irremediável o meio ambiente. Como pode a raça humana, seres inteligentes produzirem substâncias, venenos tão potentes capazes de não só matar “pragas”, mas, contaminar tudo à sua volta e causar a morte da sua própria espécie.
Milhares de substâncias químicas são sintetizadas todos os anos em laboratórios e liberadas no ambiente, os animais e as plantas e nós seres humanos entramos em contato com elas e ninguém sabe os efeitos a longo prazo.
Quando tais compostos químicos foram produzidos com o intuito de matar “pragas” de lavoura, não esperavam que ali naquele ecossistema a teoria de Darwin relativo à sobrevivência dos mais fortes pudesse conferir às pragas maior resistência ao “veneno”, resultando na necessidade de sintetizar substâncias químicas ainda mais potentes e até mesmo, letais. A aniquilação de pragas com pesticidas trouxe ao meio ambiente um dano imprevisível, pois, tais compostos podem se acumular nos tecidos dos animais, uma vez que a maioria é lipossolúvel, ou seja, possuem afinidade com o tecido adiposo e possuem a propriedade de se acumularem ao longo da cadeia alimentar prejudicando todos os animais sobretudo, os predadores do topo da cadeia.
Chamamos de poluentes orgânicos persistentes (POPs) as substâncias químicas orgânicas resistentes à degradação biológica, apresentando efeitos cumulativos e deletérios ao meio ambiente. Os POPs mais conhecidos são os pesticidas do grupo dos organoclorados, destacando-se o dicloro-difenil-tricloroetano (DDT), considerado uma das substâncias sintéticas mais utilizadas e estudadas durante o século XX. As propriedades inseticidas do DDT foram descobertas em 1939, quando passou a ser adotado no combate à malária. Também foi utilizado na Segunda Guerra Mundial para a prevenção de tifo em soldados; além de fazer parte do controle de outras doenças tropicais, como a leishmaniose visceral. 
Em função de sua grande eficiência e baixo custo, em meados da década de 1940 o DDT passou a ser largamente utilizado na agricultura e na pecuária, combatendo pragas que prejudicavam a produção. Só os Estados Unidos produziram mais de 80 mil toneladas/ano de DDT no início dos anos 1960, até que surgiram, nessa mesma década, os primeiros indícios de que se tratava de um grave poluente! A primeira manifestação contra o uso indiscriminado do DDT foi em 1962, com o célebre livro Primavera silenciosa, de Rachel Carson. A autora sugeriu que esse poluente seria a principal causa da redução populacional de diversas aves, muitas delas de topo de cadeia, como a águia-calva (símbolo dos EUA) e o falcão-peregrino. 
Mais tarde, atribuiu-se ao DDT graves efeitos sobre o homem e vários outros animais, como: câncer (fígado, pâncreas), lesões renais, supressão imunológica, deficiência reprodutiva, atuação sobre o sistema nervoso central, provocando alterações de comportamento, distúrbios sensoriais, convulsões, risco de Alzheimer, paralisia e até mesmo a morte dependendo da dose e do tempo de exposição. Além disso, as substâncias nocivas têm a possibilidade de serem transmitidas pelo aleitamento materno, podendo comprometer diretamente as condições de saúde da geração seguinte, mesmo que o contato mais direto com o agrotóxico deixe de existir.
Além da acumulação nos tecidos, os POPs são transportados através de correntes atmosféricas e oceânicas por longas distâncias, podendo atuar bem longe de sua fonte. Resíduos de DDT e outros organoclorados são encontrados nas regiões mais remotas da Terra, como em altas altitudes nos Andes ou mesmo nos pólos.

O DDT foi banido na década de 1970 dos Estados Unidos e no Brasil, só em 2009 o DDT teve sua fabricação, importação, exportação, manutenção em estoque, comercialização e uso proibidos.
Muitos trabalhadores rurais foram expostos ao DDT sem nenhum equipamento de proteção durante a década de 90, hoje já doentes lutam na justiça para serem indenizados. Muitos infelizmente, não estarão presentes quando sair a indenização, é triste aqui é Brasil, a justiça tarda e às vezes falha.

Nenhum comentário:

Postar um comentário