quinta-feira, 18 de junho de 2015

Doenças de Veiculação Hídrica (Parte I)


Organismos patogênicos capazes de causar doença quando presentes na água incluem microrganismos tais como vírus, bactérias, protozoários e cianofíceas, bem como alguns macrorganismos como helmintos, ou simplesmente vermes que podem crescer até um tamanho considerável.
Água contaminada é o principal meio de transmissão de doenças gastrointestinais.
• Os vírus são organismos que geralmente consistem unicamente de ácido nucléico (que contém a informação genética) rodeado por uma camada protetora de proteína ou capsídeo. Eles são parasitas obrigatórios; como tal, não podem crescer fora do organismo hospedeiro (podem parasitar bactérias, plantas ou animais).
Mais de 140 tipos diferentes de vírus são conhecidos por infectar o trato intestinal humano, a partir do qual eles são subsequentemente excretados nas fezes. Os vírus que infectam e se multiplicam no intestino são referidos como vírus entéricos. Alguns vírus entéricos são capazes de replicação em órgãos específicos tais como o fígado e o coração, bem como no olho, pele, e tecido nervoso. Por exemplo, o vírus da hepatite A infecta o fígado, causando uma doença chamada hepatite. Durante a infecção, uma grande quantidade de partículas virais (108-1012 por grama de fezes) são excretadas e caem nos sistemas de esgotos.
Hepatite viral infecciosa é causada pelo vírus da Hepatite A (HAV) e pelo vírus da hepatite E (HEV). Estes tipos virais estão espalhados pela água e alimentos contaminados com fezes, ao passo que outros tipos de hepatites virais, tal como hepatite B  (HBV) e hepatite C (HCV), difundem-se por exposição ao sangue e secreções sexuais.
Infecções do vírus da Hepatite A são relativamente comuns em países subdesenvolvidos, onde parte da população já foi exposta ao vírus e apresentam anticorpos contra HAV. HAV não está associado apenas com surtos de veiculação hídrica, mas também é comumente associada a surtos de origem alimentar, especialmente mariscos contaminados. HEV tem sido associada com grandes de surtos na Ásia e na África, mas não há surtos documentados em países desenvolvidos.
A hepatite apresenta dois períodos: anictérico: ocorrência de mal-estar, náuseas e urina escura, alguns dias antes do aparecimento da icterícia. Muitas vezes, o paciente é assintomático. Ictérico: ocorrência de náuseas e dor abdominal, aumento do fígado e icterícia. Dura em média duas a três semanas.

Sintomas da Hepatite A: olhos e pele amarelados
• As bactérias são organismos unicelulares procariontes rodeadas por uma parede de membrana e células. As bactérias que crescem no trato gastrintestinal humano são referidas como bactérias entéricas A existência de patógenos bacterianos entéricos é documentada há mais de cem anos. No começo do século 20, o tratamento de água potável convencional envolvendo a filtração e a desinfecção mostrou-se altamente eficaz no controle de doenças bacterianas entéricas como febre tifóide e cólera. Hoje, surtos de doenças transmitidas por bactérias pela água nos países desenvolvidos são relativamente raros: surtos tendem a ocorrer somente quando há uma falha no processo de tratamento de água ou quando a água ficou contaminada após o tratamento. As principais bactérias de preocupação são membros do gênero Salmonella, Shigella, Campylobacter, Yersinia, Escherichia, e Vibrio.
O gênero Salmonella representa um grande grupo de bactérias que compreende mais de 2000 sorotipos conhecidos. Muitos sorotipos são patogênicos aos seres humanos e podem provocar uma gama de sintomas de gastroenterite leve a grave ou até mesmo morte. A febre tifóide, causada pela S. typhi, é uma febre entérica que ocorre em seres humanos e primatas.
Shigella spp. infectam apenas os seres humanos, causando gastroenterite e febre. Elas não sobrevivem muito tempo no meio ambiente, mas beber e nadar em água não tratada acabam gerando surtos da doença Shigelose que causa intensa dor abdominal, febre, diarreia aquosa em países desenvolvidos e sobretudo, nos subdesenvolvidos.
Campylobacter e Yersinia spp. ocorrem em águas e alimentados contaminados com fezes. Escherichia coli é encontrada no trato gastrointestinal de todos os animais de sangue quente e é normalmente considerado um inofensivo microrganismo. No entanto, várias estirpes são capazes de causar gastrenterite; estas são referidas como enterotoxigênica (ETEC), enteropatogênica (EPEC), ou enterohemorrágica (EHEC). Variantes de E. coli. enterotoxigênica, por exemplo, causam uma gastroenterite com diarreia aquosa profunda acompanhada de náuseas, cólicas abdominais e vômitos.
Algumas bactérias comuns em água e solo são, por vezes, capazes de causar doença, são referidas como patógenos oportunistas. Segmentos da população particularmente suscetível a patógenos oportunistas são os recém-nascidos, idosos, e pessoas com baixa imunidade. Este grupo inclui bactérias Gram-negativas heterotróficas pertencentes aos gêneros seguintes: Pseudomonas, Aeromonas, Klebsiella, Flavobacterium, Enterobacter, Serratia, Acinetobacter e Proteus.

segunda-feira, 8 de junho de 2015

Saneamento e saúde

Saneamento é o conjunto de medidas adotadas em um local para melhorar a vida e a saúde dos habitantes, impedindo que fatores físicos de efeitos nocivos possam prejudicar as pessoas no seu bem-estar físico mental e social. Essas medidas devem ser adotadas pelos três níveis de governo (Municipal, Estadual e Federal) e contemplar o abastecimento de água tratada; coleta e tratamento de esgoto; limpeza urbana; manejo de resíduos sólidos e drenagem das águas pluviais.
O aumento das redes de tratamento de esgoto em várias partes do mundo promoveu a diminuição do número de casos de pessoas infectadas por doenças relacionadas à água, porém, no Brasil ainda há centenas de municípios onde não há coleta do esgoto, muito menos, o tratamento deste. Daí, todo o esgoto sanitário e efluentes industriais são despejados diretamente em corpos hídricos.
Rio Igarapé, Manaus, um verdadeiro esgoto a céu aberto 
Doenças de veiculação hídrica são aquelas transmitidas através da ingestão de água contaminada que serve como transportadora passiva de agente químicos e infecciosos. Doenças clássicas transmitidas pela água como cólera e febre tifoide, que frequentemente devastavam áreas densamente povoadas em toda história do ser humano, foram efetivamente controladas pela proteção dos mananciais e pelo tratamento de água contaminada.
No entanto, é importante lembrar que doenças transmitidas pela água são transmitidas através da via fecal-oral, de humano para humano ou animal ao ser humano, de modo que a água potável é apenas uma das várias possíveis fontes de infecção.
A disponibilidade de uma quantidade suficiente de água é geralmente considerada mais importante do que a qualidade da água. A falta de água para lavar e tomar banho contribui para doenças que afetam o olho e pele, incluindo conjuntivite infecciosa e tracoma, bem como para doenças diarreicas, que são uma das principais causas de mortalidade e morbidade infantil nos países em desenvolvimento. As doenças diarreicas podem ser transmitidas diretamente através do contato pessoa-a-pessoa ou indiretamente transmitidos através do contato com alimentos contaminados e utensílios utilizados pelas pessoas cujas mãos estão contaminadas por resíduos fecais. Quando existe água suficiente disponível para lavar as mãos, a incidência de doenças diarreicas tem diminuído assim como a prevalência de agentes patogênicos entéricos, tais como Shigella.
Na água também podem estar presentes  organismos que passam todo ou parte do seu ciclo de vida nas águas ou dependem de organismos aquáticos para completarem o seu ciclo de vida. Exemplos de tais organismos são o parasita Schistosoma que causa a esquistossomose. Muitas outras doenças causadas por bactérias ou vírus, protozoários, helmintos podem também ser transmitida por água contaminada. Abaixo, uma tabela com os principais grupos de patógenos causadores de doenças de veiculação hídrica.




























Tratamento de esgoto tem duas funções essenciais, proteger a saúde pública e proteger o meio ambiente. Cidades pequenas e áreas rurais são bastante prejudicadas, o tratamento do esgoto e lixos não é a prioridade em municípios pequenos, onde o nível de corrupção é absurda, é triste ver como populações são atingidas pelas falhas de políticas públicas de saneamento.
No próximo post, irei tratar especificamente das doenças de veiculação hídrica. Aguardem!!!

segunda-feira, 1 de junho de 2015

Tudo o que você sempre quis saber sobre DST, mas tinha medo de perguntar (Parte II)

A parte II inicia-se com DSTs causadas por vírus e protozoário!!! Muitas dessas doenças não são eliminadas totalmente do nosso organismo, mas permanecem “dormindo” aguardando qualquer bobeada do sistema imunológico para ressurgir como o caso, do herpes.
Herpes Genital – É causada pelo vírus herpes simples tipo 2 (HSV-2). O virus herpes simples ocorre como tipo 1 ou tipo 2, o tipo 1 (HSV-1) é o principal responsável pelo herpes labial. Esse é um vírus mais comum do que se imagina, cerca de 80%-90% da população mundial possui o vírus do herpes labial, mas somente 10% dela não consegue criar imunidade para adormecê-lo. Em relação ao HSV-2, muitas pessoas encontram-se infectadas, mas não sabem de sua condição porque é um vírus que permanece latente.
O grande problema do herpes genital é que a transmissão pode ocorrer mesmo nas fases em que o paciente está assintomático. Uma das características mais intrigantes do herpes genital é a possibilidade de recorrência. Como em outras infecções herpéticas, como o herpes labial ou o herpes zoster (reativação do vírus Varicela-Zoster, causador da catapora), o vírus permanece em estado latente, alojado nas células nervosas. Algumas pessoas têm muitas recorrências por ano; para outras, a recorrência é um evento raro. A reativação parece ser desencadeada por vários fatores, incluindo menstruação, exposição ao sol, estresse físico  e emocional, gripes, cirurgias, ou seja, qualquer fator que baixe a imunidade do indivíduo. Os sintomas associados ao herpes genital são a presença de pequenas bolhas agrupadas nos órgãos genitais que em seguida, se rompem formando úlceras que costumam ser dolorosas. Pode haver também comichão no local, e vir acompanhada de outros sintomas, como febre, mal estar e dores pelo corpo. O tratamento é realizado com drogas antivirais como aciclovir, fanciclovir sob a forma de medicamentos e pomadas.
Não há cura para o herpes genital, existe uma frase bem curiosa “ao contrário do amor, o herpes é para sempre”.

AIDS – O HIV, do gênero Lentivirus, é um retrovírus causador da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (SIDA ou AIDS), uma condição em seres humanos na qual a deterioração progressiva do sistema imunitário propicia o desenvolvimento de infeções oportunistas e cânceres potencialmente mortais. O progresso da infecção por HIV em adultos pode ser dividido em três fases clínicas.
Vírus HIV
Na fase 1, o número de moléculas de RNA viral por mililitro de plasma sanguíneo pode atingir mais de 10 milhões na primeira semana. Bilhões de células T CD4+ podem ser infectadas em algumas semanas. A infecção pode ser assintomática ou causar linfadenopatia (linfonodos inchados). Na fase 2, os números de células T CD4+ diminuem constantemente. A replicação do HIV continua, porém em um nível relativamente baixo, provavelmente sendo controlada pelas células T CD8+ e ocorrendo principalmente no tecido linfoide. Apenas algumas células relativamente infectadas liberam o HIV, embora muitas possam conter o vírus nas formas latente. Há poucos sintomas graves da doença, mas um declínio da resposta imune pode se tornar aparente pelo aparecimento de infecções persistentes pela levedura Candida albicans, que podem aparecer na boca, na garganta ou na vagina (candidíase). Outras condições podem incluir febre e diarreia persistente (mais de 1 mês), perda de peso inexplicável, pode aparecer também leucoplaquia oral (manchas esbranquiçadas na mucosa oral), ocasionada pela reativação dos vírus Epstein-Barr latentes. É na fase 3 que a Aids clínica emerge, geralmente em 10 anos de infecção, neste estágio geralmente, as contagens de células T CD4+ estão abaixo de 350 células/μL (contagem de 200 células/μL define Aids). Condições clínicas importantes indicadoras da Aids aparecem, como infecção dos brônquios, da traqueia ou dos pulmões por C. albicans; infecções dos olhos por citomegalovírus, levando o indivíduo à cegueira; tuberculose; pneumonia por Pneumocystis; toxoplasmose no cérebro; e sarcoma de Kaposi.
O procedimento para detectar anticorpos HIV tem sido o teste de ELISA, considerado o mais sensível. Existem hoje vários testes rápidos (20 a 30 minutos) realizados nos CTAs para a triagem do HIV. Testes de triagem positivos para anticorpos devem ser confirmados por um teste adicional, geralmente pelo teste de Western blotAqui no Brasil, o tratamento é custeado pelo SUS, o indivíduo recebe orientação psicológica, consultas com um infectologista, realiza exames periódicos e recebe gratuitamente os antirretrovirais.

Protozoário Trichomonas vaginalis
Tricomoníase  O protozoário anaeróbico Trichomonas vaginalis frequentemente é um habitante normal da vagina em mulheres e da uretra em muitos homens, é transmitido por via sexual. Se a acidez normal da vagina for alterada, o protozoário pode suplantar o crescimento da população microbiana normal da mucosa genital e causar tricomoníase (os homens raramente apresentam qualquer sintoma como resultado da presença do protozoário, são assintomáticos). 
Esta condição frequentemente é acompanhada pela co-infecção com a gonorreia. Sua prevalência em certas clinicas de DST é de 25% ou mais. No sexo feminino a infecção pelo Trichomonas vaginalis também pode ser assintomática, mas pelo menos 2/3 das mulheres infectadas apresentam sintomas. O quadro mais comum é a vaginite, inflamação da vagina que cursa com corrimento amarelo-esverdeado de odor desagradável associado à disúria (dor para urinar), dispareunia (dor durante o ato sexual), irritação e coceira vaginal. A incidência de tricomoníase e mais alta que a de gonorreia ou clamídia, mas é considerada relativamente benigna e não é uma doença notificável. 
A tricomoníase não tratada é fator de risco para infertilidade e câncer do colo do útero. Nas grávidas a infecção está associada a parto prematuro.O tratamento é feito por via oral com metronidazol, administrado a ambos os parceiros sexuais, o que facilmente cura a infecção.