quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Resistência antimicrobiana

Antes do desenvolvimento de antimicrobianos as pessoas viviam à mercê de infecções e estavam fadadas a morrerem prematuramente. As grandes epidemias ao longo dos séculos geravam medo e pavor à população, uma vez que não havia como combater tais infecções, algumas bastante significantes como a varíola, tifo, peste, cólera e a gripe espanhola. O desenvolvimento da penicilina por Alexander Fleming em 1928 deu início a era dos antibióticos e foi reconhecida como um dos maiores avanços na medicina terapêutica. Em seguida incluiu-se as descobertas da estreptomicina, tetraciclina, quinolonas, antifúngicos, antiparasitários e, mais recentemente os antivirais. Estas drogas, coletivamente conhecidas como antimicrobianos, salvaram a vida de milhões, reduziram os agouros das enfermidades infecciosas e permitiram o desenvolvimento de procedimentos cirúrgicos complexos, previamente considerados muito perigosos, devido ao risco de infecção no pós-operatório.
As vantagens da administração de antimicrobianos foram muitas, mas o que os médicos não contavam era que microrganismos pudessem se tornar resistentes à tais drogas.
Micróbios estão em constante evolução o que lhes permitem adaptar-se de forma eficiente a novos e diversos ambientes. A resistência antimicrobiana é a capacidade dos micróbios de crescerem na presença de um produto químico (ex: um antibiótico) que normalmente iria matá-los ou limitar o seu crescimento.

A resistência antimicrobiana torna mais difícil de eliminar infecções, como resultado, algumas doenças infecciosas são agora mais difíceis de serem tratadas. À medida que mais micróbios se tornam resistentes aos antimicrobianos, o nível de proteção desses medicamentos é reduzida. O uso excessivo e incorreto de medicamentos antibióticos estão entre os fatores que contribuíram para o desenvolvimento de micróbios resistentes aos medicamentos.
Todas as classes de microrganismos desenvolvem resistência: fungos - resistência antifúngica, vírus - resistência antiviral, protozoários - resistência antiprotozoários e bactérias - a resistência aos antibióticos. Micróbios que são resistentes a múltiplos antimicrobianos são denominados Multidrogas Resistentes (MDR) (conhecidos como superbactérias). A resistência antimicrobiana é um problema crescente no mundo, e provoca milhões de mortes a cada ano.
Qualquer utilização de antibióticos pode aumentar a pressão seletiva numa população de bactérias, promovendo bactérias resistentes e matando as mais vulneráveis, como observado na figura abaixo.
Os genes de resistência aos antibióticos surgem por mutação. Bactérias resistentes à drogas se multiplicam e proliferam.
Antibiótico só deve ser usado quando necessário e apenas quando prescrito. Os profissionais de saúde devem tentar minimizar a propagação de infecções resistentes utilizando técnicas de antisépticas adequadas, incluindo a lavagem das mãos ou desinfecção entre cada paciente.  
Os tipos comuns de bactérias resistentes incluem: Staphylococcus aureus resistente à meticilina (MRSA); S. aureus resistente à vancomicina (VRSA), beta-lactamase de espectro estendido (ESBL), o Enterococcus resistente à vancomicina (ERV), entre outros.
A resistência aos antibióticos é um problema global grave e crescente: um relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou em abril de 2014 um comunicado: "esta grave ameaça já não é uma previsão para o futuro, está acontecendo agora em todas as regiões do mundo e tem potencial para afetar qualquer pessoa, de qualquer idade, em qualquer país’
A resistência aos antibióticos não está devidamente mapeado em todo o mundo, mas os países que são mais afetados são, sem dúvida, os países mais pobres com fracos e debilitados sistemas de saúde.


quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Doenças Autoimunes: O que são?

O sistema imunológico é uma rede de células, tecidos e órgãos que trabalham juntos para defender o organismo contra os ataques de invasores. Estes invasores são principalmente bactérias, vírus, parasitas e fungos, quando estes microrganismos penetram em nosso corpo, um exército de glóbulos brancos detecta a presença de “inimigos” e lutam evitando que estes colonizem causando infecções. Os corpos estranhos que penetram no organismo e desencadeiam uma resposta imunológica recebem o nome de antígenos.
A chave para um sistema imunitário saudável é sua notável capacidade de distinguir entre as células do próprio corpo e corpos estranhos. Em situações anormais, o sistema imune pode confundir ou não distinguir o que é próprio do corpo e o que não é, daí o resultado é uma resposta imunológica que ataca e destrói as células normais do corpo também. O resultado é chamado de doença autoimune.
Anticorpos atacando o próprio tecido do corpo
Existem mais de 80 tipos de doenças autoimunes, e algumas apresentam sintomas semelhantes. Isso torna difícil para o médico detectar com precisão se a pessoa realmente sofre de uma dessas doenças, e em caso afirmativo, qual. Obter um diagnóstico pode ser frustrante e estressante para muitos portadores. Muitas vezes, os primeiros sintomas são fadiga, dores musculares e febre baixa, o sinal clássico de uma doença autoimune é a inflamação, o que pode causar vermelhidão, calor, dor e inchaço.
As doenças autoimunes são conhecidas por apresentarem ciclos, em alguns momentos a doença fica ativada e a pessoa tem as crises e em outros, ela entra em remissão, daí os sintomas melhoram ou desaparecem. O tratamento depende da doença, mas, na maioria dos casos, um objetivo importante é o de reduzir a inflamação. Às vezes os médicos prescrevem corticosteroides ou outras drogas que reduzem a resposta imune.
Exemplos de doenças autoimunes incluem:
Artrite reumatoide – É uma doença inflamatória crônica autoimune que afeta várias articulações (mãos, punhos, joelho, cotovelo, coluna), causando inflamação, inchaço e dores. Se não for tratada, a artrite reumatoide provoca gradualmente danos permanentes nas articulações. Os tratamentos para a artrite reumatoide podem incluir vários medicamentos orais ou injetáveis ​​que reduzem a atividade do sistema imunológico. Ocorre em cerca de 1% da população, ou seja, uma em cada 100 pessoas pode ter a doença.
Lúpus eritematoso sistêmico (LES) – Pessoas com lúpus desenvolvem auto anticorpos, ou seja, anticorpos que atacam o próprio corpo. As articulações, pulmões, células do sangue, nervos e rins são comumente afetados pela doença. O tratamento geralmente requer prednisona oral diária, um esteroide que reduz a função do sistema imunológico. Não se sabe ao certo os mecanismos que fazem com que o corpo começa a produzir esses auto anticorpos. Os estudos sugerem uma associação com fatores genéticos, pois, a doença é mais comum quando há história familiar positiva, e fatores ambientais, como o estresse. A doença é nove vezes mais comum em mulheres do que homens e ocorre em todas as idades, sendo mais prevalente entre 20 e 40 anos.
Doença inflamatória do intestino (DII) – O sistema imunológico ataca o revestimento do intestino, causando episódios de diarreia, sangramento retal, dor abdominal, febre e perda de peso. A colite ulcerativa e a doença de Crohn são duas formas principais de DII. Medicamentos imunossupressores e injetados por via oral auxiliam no tratamento da DII.
Esclerose múltipla – O sistema imunológico ataca as células nervosas, causando sintomas que incluem dor, cegueira, fraqueza, falta de coordenação e espasmos musculares. Vários medicamentos que suprimem o sistema imunitário podem ser utilizados para tratar a esclerose múltipla.
Síndrome de Guillain-Barre - O sistema imunológico ataca os nervos que controlam os músculos nas pernas e às vezes os braços e parte superior do corpo. O indivíduo produz auto anticorpos contra sua própria mielina. Então os nervos acometidos não podem transmitir os sinais que vêm do sistema nervoso central com eficiência, levando a uma perda da habilidade de grupos musculares de responderem aos comandos cerebrais. O cérebro também recebe menos sinais sensitivos do corpo, resultando em inabilidade para sentir o contato com a pele, dor ou calor. Filtrando o sangue com um procedimento chamado plasmaférese (método no qual todo o sangue é removido do corpo e as células do sangue são separadas do plasma ou parte líquida do sangue, e então, as células do sangue são infundidas no paciente sem o plasma, o que o corpo rapidamente repõe) é o principal tratamento para a síndrome de Guillain-Barre.
Psoríase – é uma doença de pele crônica e não contagiosa que pode atacar as mucosas, unhas e até as articulações. Atinge homens e mulheres, principalmente na faixa etária entre 20 e 40 anos. A psoríase pode ser transmitida para as próximas gerações de uma família, pois a genética influencia em 30% dos casosAlém da predisposição genética, outros fatores podem desencadear ou agravar a doença como estresse, exposição ao frio, irritações na pele, infecção de garganta e ingestão de bebidas alcóolica. A doença apresenta lesões avermelhadas e que descamam a pele, formam placas que geralmente acometem o couro cabeludo, cotovelo e joelhos mas pode atingir qualquer parte do corpo.
Tireoidite de Hashimoto – Os anticorpos produzidos pelo sistema imunitário atacam a glândula tireóide e lentamente destroem as células que produzem o hormônio da tireóide. Os sintomas incluem fadiga, constipação, ganho de peso, depressão, pele seca, e sensibilidade ao frio. Tomando um comprimido de hormônio tireoidiano sintético oral diária restaura as funções normais do corpo.
Vitiligo - caracteriza-se pela diminuição ou falta de melanina (pigmento que dá cor à pele) em certas áreas do corpo, gerando manchas brancas nos locais afetados. As lesões, que podem ser isoladas ou espalhar-se pelo corpo, atingem principalmente os genitais, cotovelos, joelhos, face, extremidades dos membros inferiores e superiores (mãos e pés). O vitiligo incide em 1% a 2% da população mundial. Fatores como estresse físico e emocional são fatores no desencadeamento da doença.

Se você está vivendo com uma doença autoimune, há coisas que você pode fazer cada dia para se sentir melhor:
  • Alimente-se de maneira saudável e faça refeições equilibradas. Inclua frutas e vegetais, grãos integrais, carnes magras. Controle a quantidade de sal, açúcar e gorduras trans;
  • Faça uma atividade física regularmente. Mas tenha cuidado para não exagerar. Converse com o seu médico sobre quais os tipos de atividades você pode fazer;
  • Descanse bastante. Dormir é uma grande maneira que você pode ajudar tanto o seu corpo e a mente;
  • Reduza o estresse. Estresse e ansiedade podem desencadear os sintomas e ativar algumas doenças autoimunes;
  • Participe de um grupo de apoio ou procure um psicólogo também pode ajudá-lo a gerenciar o estresse e lidar com sua doença;
  • Procure ocupar a mente, faça artesanatos, trabalhe, as doenças autoimunes não impossibilitam a pessoa de viver.

quarta-feira, 29 de julho de 2015

Infecção por HPV e o risco de câncer

As chances de você ter sido exposto ao vírus do papiloma humano (HPV) e não sabe, são imensas. Na verdade, a maioria dos adultos que são sexualmente ativos já foram expostos ao HPV em algum momento da vida. Estima-se que mais de 75% da população mundial em idade reprodutiva foi infectada com um ou mais tipos de HPV genital e até 5,5 milhões de novas infecções ocorrem em cada ano. A frequência da infecção está relacionada com a quantidade de parceiros sexuais e com a ausência de métodos de prevenção, no caso, o uso da camisinhaImportante salientar que o uso do preservativo ajuda, mas não previne totalmente a transmissão do HPV.
Papillomavírus
Os vírus HPV são chamados de papillomavírus humano porque eles tendem a causar verrugas ou papilomas em peles e mucosas. Estas verrugas podem aparecer nas mãos e pés, ou sobre a área genital. As estirpes de HPV que causam verrugas que crescem nas mãos e nos pés, no entanto, raramente são do mesmo tipo que causa verrugas na área genital. E, nem todos os vírus causam verrugas. Existem mais de 100 tipos diferentes de HPV. Cerca de 40 tipos são transmitidos através do contato sexual e apenas uma pequena parte destes estão associadas com o câncer cervical. 
A boa notícia: na grande maioria dos casos, o vírus não causa sintomas ou problemas de saúde. A má notícia: isso faz com que quase todos os casos de câncer cervical sejam devido ao HPV.
A maioria das infecções por HPV regride espontaneamente e não causa sintomas. Contudo, em alguns casos, a infecção persiste devido a baixa imunidade da pessoa e também a tipos específicos de HPV (mais frequentemente, os tipos 16 e 18, tipos oncogênicos) podendo ocasionar lesões pré-cancerosas. Se tais lesões não forem tratadas podem evoluir para o câncer cervical. A preocupação das mulheres que recebem o diagnóstico da infecção por HPV é se existe cura ou não para o vírus. Até pouco tempo se acreditava que não havia cura para a infecção, hoje sabe-se que grande parte das lesões evoluirá para a cura. Na verdade, só em torno de 10% das pessoas infectadas desenvolverão lesões mínimas no colo do útero e um número muito menor, lesões mais graves. 
Em muitos aspectos, as questões levantadas pela infecção por HPV são semelhantes da infecção por herpes genital. Ambos os vírus podem causar problemas médicos em algumas mulheres e ambos se tornaram comuns na população. Ao contrário do herpes, entretanto, o HPV causa câncer em uma pequena porcentagem de homens e mulheres. Além do câncer do colo do útero, o HPV também pode causar câncer de vulva, pênis, cabeça, boca, pescoço e do ânus, mas esses diagnósticos são mais raros.
Se as verrugas genitais aparecem, é uma indicação de infecção pelo HPV. As verrugas genitais podem assumir muitas aparências. Elas podem ser pequenas, grandes, elevadas, lisas, cor de rosa ou cor de carne, podem ainda ter a forma de couve-flor. Às vezes há uma única verruga; outras vezes várias verrugas aparecem. Locais mais comuns acometidos: ânus, colo do útero, virilha, coxa ou pênis.
Lesões de HPV na boca e nos órgãos genitais
Estudos em revistas especializadas mostram que 99% das mulheres que têm câncer de colo uterino foram antes infectadas por estes vírus. No colo uterino, podem ocasionar lesões que se não tratadas, têm potencial de progressão para o câncer. Sem dúvida, o melhor a se fazer em mulheres sexualmente ativas é procurar um médico e fazer o exame preventivo (Papanicolau) anualmente, pois, é através deste exame que se detecta as lesões precursoras do Câncer de colo de útero. Quando essas alterações que antecedem o câncer são identificadas e tratadas é possível prevenir a doença em 100% dos casos. O exame Papanicolau continua a ser uma opção de triagem recomendado para a detecção de anormalidades celulares que podem se transformar em câncer cervical.
A prevenção e o controle do câncer do colo de útero é constituído por diversos componentes-chave que variam desde educação da comunidade, mobilização social, vacinação, exame preventivo, tratamento e cuidados paliativos. Vacinação contra o HPV não substitui o rastreio do câncer cervical. Recentemente, foi lançada uma vacina que previne a infecção pelo HPV, esta vacina protege contra os subtipos 16 e 18 de alto risco para o câncer do colo do útero e contra os subtipos 6 e 11 responsáveis pelo aparecimento das verrugas conhecidas popularmente como cristas-de-galo, nos genitais masculinos e femininos.
A prevenção é sempre o melhor caminho para evitar doenças, além da prevenção, fortalecer o sistema imunológico através da prática de esportes e uma boa alimentação, manter uma higiene adequada, possuir hábitos saudáveis e realizar exames preventivos são atitudes essenciais para manter à distância microrganismos indesejáveis que possam afetar a saúde de homens e mulheres.


sexta-feira, 17 de julho de 2015

Os derramamentos de petróleo - a ameaça para o meio ambiente

Os seres humanos transformam os ambientes marinhos afetando os organismos e o ecossistema em muitas maneiras. O mar é considerado como um local conveniente de despejo e vários poluentes são liberados no meio marinho através de emissários domésticos/industriais. Um dos graves problemas de poluição aquática, são os despejos de derivados de petróleo que além de causarem prejuízos ambientais e financeiros, causam comoção social e atraem uma maior atenção como poluentes devido ao impacto de um derramamento de petróleo ser visualmente muito aparente.
Tal poluição representa um risco significativo para a vida aquática e para os ambientes costeiros (praias e costões rochosos) onde derramamentos ocorrem mais frequentemente, em regiões próximas a campos produtores de petróleo, ao longo das principais rotas de petroleiros e perto das principais instalações de manuseio de petróleo (portos e refinarias).
A crescente dependência por petróleo e seu uso desenfreado nos últimos anos faz com que cada ano o volume de petróleo produzido no mundo aumente cada vez mais. Devido a todo esse consumo desenfreado e a logística envolvendo toda a cadeia produtiva do petróleo, o risco de vazamentos só aumenta. As atividades decorrentes da indústria do petróleo envolvem as etapas de exploração, perfuração, produção, transporte, refino e distribuição, todas essas etapas possuem potencial de causar uma série de impactos ao meio ambiente.
Derramamento de óleo na costa da Tailândia

Poluição marinha é definida pela Comissão Oceanográfica Intergovernamental como a introdução pelo homem, direta ou indiretamente, de substâncias no meio marinho, resultando em efeitos deletérios, como danos aos recursos resultando em perigos para a saúde humana; entrave às atividades marítimas, incluindo a pesca; comprometimento da qualidade da água do mar.
O número de poluentes que entram no mar é muito grande, centenas de novos produtos químicos são produzidos anualmente, sem o seu real nível de toxicidade para o ambiente. Alguns poluentes introduzidos irão se decompor ao longo do tempo, outros são recalcitrantes (compostos altamente estáveis e que persistem no ambiente, resistindo à degradação química e fotolítica) e ainda alguns terão seus efeitos atenuados pelo grande volume de água dos oceanosA toxicidade da contaminação por hidrocarboneto de petróleo é  dependente do tempo e da quantidade de produto derramado do vazamento.
Depois de um derramamento de óleo, uma grande variedade de processos químicos, físicos e biológicos começam a agir sobre o óleo. As mudanças físicas e químicas são chamadas de intemperismo e agem modificando a composição, comportamento, rotas de exposição e toxicidade do óleo. Os processos dominantes que influenciam o comportamento do óleo derramado são espalhamento, advecção, evaporação, dissolução, dispersão natural, emulsificação, foto-oxidação, sedimentação e biodegradação. 
A Figura abaixo representa um esquema dos principais processos de intemperismo.
Principais processos de Intemperismo no mar


Ave coberta de óleo limitando trocas gasosas
O óleo pode causar vários efeitos crônicos sobre espécies de coluna de água. Estes efeitos incluem a interrupção neurossensorial, anormalidades comportamentais e a fertilidade reduzida. O petróleo derramado na superfície da água também limita a troca de oxigênio, pois, ele impregna-se nas brânquias de peixes e nas penas das aves, causando lesões patológicas em superfícies respiratórias, causando danos e mortes a estes.
Para os organismos bentônicos, o óleo pode afetar a colonização de invertebrados resultando em vários efeitos letais e subletais devido à acumulação deste no sedimento. A recuperação completa das comunidades bentônicas pode levar anos, gerando organismos tolerantes aos efeitos da poluição.

quarta-feira, 1 de julho de 2015

Doenças de Veiculação Hídrica (Parte II)

São muitas as doenças vinculadas à falta de saneamento básico. Elas interferem na qualidade de vida da população e até mesmo no desenvolvimento do país. A maioria dessas doenças é de fácil prevenção, mas causam muitas mortes, como o caso da diarreia entre crianças menores de 5 anos no Brasil.
Algas são seres fundamentais para a manutenção de vida no Oceano, pois, realizam fotossíntese e elimina o O2 que será utilizado para todos os animais aeróbios, mas algumas espécies produzem toxinas que podem levar o indivíduo a morte. Algas azuis-esverdeadas, ou cianobactérias, são organismos procariotos pertencem ao Reino Monera por não possuírem um núcleo organizado ao contrário das algas verdes. As cianobactérias podem ocorrer como organismos unicelulares, coloniais ou filamentosas. Ocorrem comumente em todas as águas naturais e desempenham um importante papel na cadeia alimentar. No entanto, algumas espécies de cianobactérias, tais como Microcystis, Aphanizomenon e Anabaena, produzem toxinas capazes de causar doenças em seres humanos e animais. Estas toxinas podem causar gastroenterite, distúrbios neurológicos, renais no fígado e possivelmente câncer. Neste caso, a doença é causada pela ingestão da toxina produzida pelos organismos, em vez da ingestão do próprio organismo. Numerosos casos de gado, animais de estimação e envenenamentos de animais selvagens pela ingestão de água com toxina produzidas pelas cianobactérias têm sido relatados. Florações de cianobactérias podem ocorrer em águas superficiais quando nutrientes suficientes estão disponíveis, resultado da contaminação por esgoto “in natura” e uso indiscriminado de fertilizantes em corpos hídricos.
Protozoários são seres unicelulares que podem viver isolados ou formar colônias, alguns são de vida livre ou podem estar associados a um hospedeiro. Os protozoários parasitas que vivem no trato gastrointestinal são capazes de produzir cistos altamente resistentes ou oocistos. Estes oocistos têm paredes muito grossas, o que os torna muito resistentes a desinfecção. Várias espécies de protozoários intestinais foram identificadas, com diferentes graus de patogenicidade. A virulência varia de elevada, como ocorre com o Cryptosporidium sp, associado a grande número de infecções sintomáticas, a intermediária, causada pela Giardia lamblia, e inexistente observada pela ausência de patogenicidade de algumas cepas da Entamoeba histolytica.
Cryptosporidium, um protozoário entérico descrito pela primeira vez em 1907, tem sido reconhecida como uma causa de doenças entéricas em humanos desde 1980. Cryptosporidium parvum é uma espécie responsável por infecção em seres humanos e animais domesticados. A prevalência de infecção por Cryptosporidium é largamente atribuível ao seu ciclo de vida, pois, é liberado para o meio ambiente juntamente com as fezes do indivíduo parasitado uma forma bastante resistente: o oocisto. Os oocistos são formas esféricas de Cryptosporidium com tamanho de 3-6 µm de diâmetro. Após a ingestão, os oocistos sofrem excistação, libertando uma forma chamada de esporozoíto, que, em seguida, iniciam a infecção intracelular no interior das células epiteliais do trato gastrointestinal. Uma vez no trato gastrointestinal, Cryptosporidium em seres humanos provoca Criptosporidiose, caracterizado por diarreia aquosa profunda, o que pode resultar em as perdas de fluido em média de 3 ou mais litros por dia. Outros sintomas da criptosporidiose podem incluir dor abdominal, náuseas, vômitos e febre. Estes sintomas, que normalmente aparecem em cerca de três a seis dias após a exposição, pode ser grave suficiente para causar a morte.
Oocisto de Cryptosporidium
A giardíase é particularmente uma doença grave causada pelo protozoário Giardia lamblia, cujos sintomas agudos incluem diarréia aquosa e gordurosa, flatulência, vômitos excessivos e perda de peso rápido. Na maioria das pessoas estes sintomas duram de uma a quatro semanas, mas há conhecimento de casos que duraram de três a quatro dias ou que permaneceram por vários meses.
Cisto e Trofozoíto de Giardia

Os humanos são infectados com G. lamblia, pela ingestão do cisto ambientalmente resistente. Uma vez ingerido, este passa através do estômago e atinge a parte superior do intestino. O aumento da acidez pela passagem através do estômago estimula o cisto a eclodir liberando trofozoítos na parte superior do intestino. Acredita-se que os trofozoítos usam seus discos de sucção para aderir às células epiteliais. 


Além dos protozoários unicelulares, os helmintos são capazes de parasitar humanos. Estes incluem os Nematoda (lombrigas) e os Platyhelminthes, que são divididos em dois subgrupos: a Classe Cestoda e a Classe Trematoda. Helmintos (literalmente "vermes") são animais multicelulares que parasitam seres humanos e diversos animais como gado, porco, caprinos. Estes organismos geralmente possuem um hospedeiro intermediário e um final. Uma vez que estes parasitas entram, no seu hospedeiro humano final, eles põem ovos que são excretados nas fezes de pessoas infectadas e disseminada por água residuária, solo ou alimentos. Estes ovos são muito resistentes a estresses ambientais e de desinfecção.
A teníase é uma doença causada pela forma adulta das tênias, Taenia solium possui como hospedeiro intermediário o porco e Taenia saginata, o boi. As tênias também são chamadas de "solitárias", porque, na maioria dos casos, o portador traz apenas um verme adulto. A cisticercose também é uma doença provocada por esses parasitos, porém, ao contrário da teníase, que é causada pelos vermes adultos da T. solium ou T. saginata, a cisticercose é uma doença causada somente pela larva (cisticerco) da Taenia solium. As tênias são grandes vermes de corpo achatado que podem alcançar vários metros de comprimentos. A Taenia saginata é um verme maior, podendo chegar até a 25 metros de comprimento, apesar da média ser 5 metros. Já a Taenia solium costuma medir entre 2 a 7 metros.
Tênia adulta
As parasitoses, em geral, são transmitidas por contato direto fecal-oral ou contaminação de alimentos e água em ambientes com condições sanitárias inadequadas. Aqui no Brasil, muitas residências não têm acesso à rede de esgoto. A população de baixa renda, sem dúvida é a maior prejudicada, pois, reside em ambientes de alta contaminação, com aglomeração intensa de pessoas, sem acesso à saneamento e coleta do lixo.

quinta-feira, 18 de junho de 2015

Doenças de Veiculação Hídrica (Parte I)


Organismos patogênicos capazes de causar doença quando presentes na água incluem microrganismos tais como vírus, bactérias, protozoários e cianofíceas, bem como alguns macrorganismos como helmintos, ou simplesmente vermes que podem crescer até um tamanho considerável.
Água contaminada é o principal meio de transmissão de doenças gastrointestinais.
• Os vírus são organismos que geralmente consistem unicamente de ácido nucléico (que contém a informação genética) rodeado por uma camada protetora de proteína ou capsídeo. Eles são parasitas obrigatórios; como tal, não podem crescer fora do organismo hospedeiro (podem parasitar bactérias, plantas ou animais).
Mais de 140 tipos diferentes de vírus são conhecidos por infectar o trato intestinal humano, a partir do qual eles são subsequentemente excretados nas fezes. Os vírus que infectam e se multiplicam no intestino são referidos como vírus entéricos. Alguns vírus entéricos são capazes de replicação em órgãos específicos tais como o fígado e o coração, bem como no olho, pele, e tecido nervoso. Por exemplo, o vírus da hepatite A infecta o fígado, causando uma doença chamada hepatite. Durante a infecção, uma grande quantidade de partículas virais (108-1012 por grama de fezes) são excretadas e caem nos sistemas de esgotos.
Hepatite viral infecciosa é causada pelo vírus da Hepatite A (HAV) e pelo vírus da hepatite E (HEV). Estes tipos virais estão espalhados pela água e alimentos contaminados com fezes, ao passo que outros tipos de hepatites virais, tal como hepatite B  (HBV) e hepatite C (HCV), difundem-se por exposição ao sangue e secreções sexuais.
Infecções do vírus da Hepatite A são relativamente comuns em países subdesenvolvidos, onde parte da população já foi exposta ao vírus e apresentam anticorpos contra HAV. HAV não está associado apenas com surtos de veiculação hídrica, mas também é comumente associada a surtos de origem alimentar, especialmente mariscos contaminados. HEV tem sido associada com grandes de surtos na Ásia e na África, mas não há surtos documentados em países desenvolvidos.
A hepatite apresenta dois períodos: anictérico: ocorrência de mal-estar, náuseas e urina escura, alguns dias antes do aparecimento da icterícia. Muitas vezes, o paciente é assintomático. Ictérico: ocorrência de náuseas e dor abdominal, aumento do fígado e icterícia. Dura em média duas a três semanas.

Sintomas da Hepatite A: olhos e pele amarelados
• As bactérias são organismos unicelulares procariontes rodeadas por uma parede de membrana e células. As bactérias que crescem no trato gastrintestinal humano são referidas como bactérias entéricas A existência de patógenos bacterianos entéricos é documentada há mais de cem anos. No começo do século 20, o tratamento de água potável convencional envolvendo a filtração e a desinfecção mostrou-se altamente eficaz no controle de doenças bacterianas entéricas como febre tifóide e cólera. Hoje, surtos de doenças transmitidas por bactérias pela água nos países desenvolvidos são relativamente raros: surtos tendem a ocorrer somente quando há uma falha no processo de tratamento de água ou quando a água ficou contaminada após o tratamento. As principais bactérias de preocupação são membros do gênero Salmonella, Shigella, Campylobacter, Yersinia, Escherichia, e Vibrio.
O gênero Salmonella representa um grande grupo de bactérias que compreende mais de 2000 sorotipos conhecidos. Muitos sorotipos são patogênicos aos seres humanos e podem provocar uma gama de sintomas de gastroenterite leve a grave ou até mesmo morte. A febre tifóide, causada pela S. typhi, é uma febre entérica que ocorre em seres humanos e primatas.
Shigella spp. infectam apenas os seres humanos, causando gastroenterite e febre. Elas não sobrevivem muito tempo no meio ambiente, mas beber e nadar em água não tratada acabam gerando surtos da doença Shigelose que causa intensa dor abdominal, febre, diarreia aquosa em países desenvolvidos e sobretudo, nos subdesenvolvidos.
Campylobacter e Yersinia spp. ocorrem em águas e alimentados contaminados com fezes. Escherichia coli é encontrada no trato gastrointestinal de todos os animais de sangue quente e é normalmente considerado um inofensivo microrganismo. No entanto, várias estirpes são capazes de causar gastrenterite; estas são referidas como enterotoxigênica (ETEC), enteropatogênica (EPEC), ou enterohemorrágica (EHEC). Variantes de E. coli. enterotoxigênica, por exemplo, causam uma gastroenterite com diarreia aquosa profunda acompanhada de náuseas, cólicas abdominais e vômitos.
Algumas bactérias comuns em água e solo são, por vezes, capazes de causar doença, são referidas como patógenos oportunistas. Segmentos da população particularmente suscetível a patógenos oportunistas são os recém-nascidos, idosos, e pessoas com baixa imunidade. Este grupo inclui bactérias Gram-negativas heterotróficas pertencentes aos gêneros seguintes: Pseudomonas, Aeromonas, Klebsiella, Flavobacterium, Enterobacter, Serratia, Acinetobacter e Proteus.

segunda-feira, 8 de junho de 2015

Saneamento e saúde

Saneamento é o conjunto de medidas adotadas em um local para melhorar a vida e a saúde dos habitantes, impedindo que fatores físicos de efeitos nocivos possam prejudicar as pessoas no seu bem-estar físico mental e social. Essas medidas devem ser adotadas pelos três níveis de governo (Municipal, Estadual e Federal) e contemplar o abastecimento de água tratada; coleta e tratamento de esgoto; limpeza urbana; manejo de resíduos sólidos e drenagem das águas pluviais.
O aumento das redes de tratamento de esgoto em várias partes do mundo promoveu a diminuição do número de casos de pessoas infectadas por doenças relacionadas à água, porém, no Brasil ainda há centenas de municípios onde não há coleta do esgoto, muito menos, o tratamento deste. Daí, todo o esgoto sanitário e efluentes industriais são despejados diretamente em corpos hídricos.
Rio Igarapé, Manaus, um verdadeiro esgoto a céu aberto 
Doenças de veiculação hídrica são aquelas transmitidas através da ingestão de água contaminada que serve como transportadora passiva de agente químicos e infecciosos. Doenças clássicas transmitidas pela água como cólera e febre tifoide, que frequentemente devastavam áreas densamente povoadas em toda história do ser humano, foram efetivamente controladas pela proteção dos mananciais e pelo tratamento de água contaminada.
No entanto, é importante lembrar que doenças transmitidas pela água são transmitidas através da via fecal-oral, de humano para humano ou animal ao ser humano, de modo que a água potável é apenas uma das várias possíveis fontes de infecção.
A disponibilidade de uma quantidade suficiente de água é geralmente considerada mais importante do que a qualidade da água. A falta de água para lavar e tomar banho contribui para doenças que afetam o olho e pele, incluindo conjuntivite infecciosa e tracoma, bem como para doenças diarreicas, que são uma das principais causas de mortalidade e morbidade infantil nos países em desenvolvimento. As doenças diarreicas podem ser transmitidas diretamente através do contato pessoa-a-pessoa ou indiretamente transmitidos através do contato com alimentos contaminados e utensílios utilizados pelas pessoas cujas mãos estão contaminadas por resíduos fecais. Quando existe água suficiente disponível para lavar as mãos, a incidência de doenças diarreicas tem diminuído assim como a prevalência de agentes patogênicos entéricos, tais como Shigella.
Na água também podem estar presentes  organismos que passam todo ou parte do seu ciclo de vida nas águas ou dependem de organismos aquáticos para completarem o seu ciclo de vida. Exemplos de tais organismos são o parasita Schistosoma que causa a esquistossomose. Muitas outras doenças causadas por bactérias ou vírus, protozoários, helmintos podem também ser transmitida por água contaminada. Abaixo, uma tabela com os principais grupos de patógenos causadores de doenças de veiculação hídrica.




























Tratamento de esgoto tem duas funções essenciais, proteger a saúde pública e proteger o meio ambiente. Cidades pequenas e áreas rurais são bastante prejudicadas, o tratamento do esgoto e lixos não é a prioridade em municípios pequenos, onde o nível de corrupção é absurda, é triste ver como populações são atingidas pelas falhas de políticas públicas de saneamento.
No próximo post, irei tratar especificamente das doenças de veiculação hídrica. Aguardem!!!

segunda-feira, 1 de junho de 2015

Tudo o que você sempre quis saber sobre DST, mas tinha medo de perguntar (Parte II)

A parte II inicia-se com DSTs causadas por vírus e protozoário!!! Muitas dessas doenças não são eliminadas totalmente do nosso organismo, mas permanecem “dormindo” aguardando qualquer bobeada do sistema imunológico para ressurgir como o caso, do herpes.
Herpes Genital – É causada pelo vírus herpes simples tipo 2 (HSV-2). O virus herpes simples ocorre como tipo 1 ou tipo 2, o tipo 1 (HSV-1) é o principal responsável pelo herpes labial. Esse é um vírus mais comum do que se imagina, cerca de 80%-90% da população mundial possui o vírus do herpes labial, mas somente 10% dela não consegue criar imunidade para adormecê-lo. Em relação ao HSV-2, muitas pessoas encontram-se infectadas, mas não sabem de sua condição porque é um vírus que permanece latente.
O grande problema do herpes genital é que a transmissão pode ocorrer mesmo nas fases em que o paciente está assintomático. Uma das características mais intrigantes do herpes genital é a possibilidade de recorrência. Como em outras infecções herpéticas, como o herpes labial ou o herpes zoster (reativação do vírus Varicela-Zoster, causador da catapora), o vírus permanece em estado latente, alojado nas células nervosas. Algumas pessoas têm muitas recorrências por ano; para outras, a recorrência é um evento raro. A reativação parece ser desencadeada por vários fatores, incluindo menstruação, exposição ao sol, estresse físico  e emocional, gripes, cirurgias, ou seja, qualquer fator que baixe a imunidade do indivíduo. Os sintomas associados ao herpes genital são a presença de pequenas bolhas agrupadas nos órgãos genitais que em seguida, se rompem formando úlceras que costumam ser dolorosas. Pode haver também comichão no local, e vir acompanhada de outros sintomas, como febre, mal estar e dores pelo corpo. O tratamento é realizado com drogas antivirais como aciclovir, fanciclovir sob a forma de medicamentos e pomadas.
Não há cura para o herpes genital, existe uma frase bem curiosa “ao contrário do amor, o herpes é para sempre”.

AIDS – O HIV, do gênero Lentivirus, é um retrovírus causador da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (SIDA ou AIDS), uma condição em seres humanos na qual a deterioração progressiva do sistema imunitário propicia o desenvolvimento de infeções oportunistas e cânceres potencialmente mortais. O progresso da infecção por HIV em adultos pode ser dividido em três fases clínicas.
Vírus HIV
Na fase 1, o número de moléculas de RNA viral por mililitro de plasma sanguíneo pode atingir mais de 10 milhões na primeira semana. Bilhões de células T CD4+ podem ser infectadas em algumas semanas. A infecção pode ser assintomática ou causar linfadenopatia (linfonodos inchados). Na fase 2, os números de células T CD4+ diminuem constantemente. A replicação do HIV continua, porém em um nível relativamente baixo, provavelmente sendo controlada pelas células T CD8+ e ocorrendo principalmente no tecido linfoide. Apenas algumas células relativamente infectadas liberam o HIV, embora muitas possam conter o vírus nas formas latente. Há poucos sintomas graves da doença, mas um declínio da resposta imune pode se tornar aparente pelo aparecimento de infecções persistentes pela levedura Candida albicans, que podem aparecer na boca, na garganta ou na vagina (candidíase). Outras condições podem incluir febre e diarreia persistente (mais de 1 mês), perda de peso inexplicável, pode aparecer também leucoplaquia oral (manchas esbranquiçadas na mucosa oral), ocasionada pela reativação dos vírus Epstein-Barr latentes. É na fase 3 que a Aids clínica emerge, geralmente em 10 anos de infecção, neste estágio geralmente, as contagens de células T CD4+ estão abaixo de 350 células/μL (contagem de 200 células/μL define Aids). Condições clínicas importantes indicadoras da Aids aparecem, como infecção dos brônquios, da traqueia ou dos pulmões por C. albicans; infecções dos olhos por citomegalovírus, levando o indivíduo à cegueira; tuberculose; pneumonia por Pneumocystis; toxoplasmose no cérebro; e sarcoma de Kaposi.
O procedimento para detectar anticorpos HIV tem sido o teste de ELISA, considerado o mais sensível. Existem hoje vários testes rápidos (20 a 30 minutos) realizados nos CTAs para a triagem do HIV. Testes de triagem positivos para anticorpos devem ser confirmados por um teste adicional, geralmente pelo teste de Western blotAqui no Brasil, o tratamento é custeado pelo SUS, o indivíduo recebe orientação psicológica, consultas com um infectologista, realiza exames periódicos e recebe gratuitamente os antirretrovirais.

Protozoário Trichomonas vaginalis
Tricomoníase  O protozoário anaeróbico Trichomonas vaginalis frequentemente é um habitante normal da vagina em mulheres e da uretra em muitos homens, é transmitido por via sexual. Se a acidez normal da vagina for alterada, o protozoário pode suplantar o crescimento da população microbiana normal da mucosa genital e causar tricomoníase (os homens raramente apresentam qualquer sintoma como resultado da presença do protozoário, são assintomáticos). 
Esta condição frequentemente é acompanhada pela co-infecção com a gonorreia. Sua prevalência em certas clinicas de DST é de 25% ou mais. No sexo feminino a infecção pelo Trichomonas vaginalis também pode ser assintomática, mas pelo menos 2/3 das mulheres infectadas apresentam sintomas. O quadro mais comum é a vaginite, inflamação da vagina que cursa com corrimento amarelo-esverdeado de odor desagradável associado à disúria (dor para urinar), dispareunia (dor durante o ato sexual), irritação e coceira vaginal. A incidência de tricomoníase e mais alta que a de gonorreia ou clamídia, mas é considerada relativamente benigna e não é uma doença notificável. 
A tricomoníase não tratada é fator de risco para infertilidade e câncer do colo do útero. Nas grávidas a infecção está associada a parto prematuro.O tratamento é feito por via oral com metronidazol, administrado a ambos os parceiros sexuais, o que facilmente cura a infecção.


sexta-feira, 22 de maio de 2015

Tudo o que você sempre quis saber sobre DST, mas tinha medo de perguntar (Parte I)

Devido à enorme quantidade de informações sobre o assunto decidi fragmentá-lo em partes. Na parte I abordarei as principais DSts causadas por bactérias.
Doenças Sexualmente Transmissíveis - DSTs - são causadas por uma variedade de microrganismos dentre eles: bactérias, vírus e até mesmo protozoários. Como o próprio nome já diz, são doenças transmitidas via contato sexual.
O termo “Doenças Sexualmente Transmissíveis” está entrando em desuso, nas mais recentes publicações, pesquisadores estão utilizando a terminologia “Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs)”. A razão para essa mudança é que o conceito de “doença” implica em sinais e sintomas, enquanto a maioria das pessoas infectadas pelos microrganismos transmitidos sexualmente não apresenta sinais ou sintomas, ou seja, o indivíduo infectado fica assintomático.
Sífilis – é uma doença causada pela bactéria Treponema Pallidum, de evolução crônica, é altamente contagiosa transmitida principalmente pela atividade sexual, incluindo sexo oral e anal, mas, pode também ser transmitida de uma mãe infectada para o feto (sífilis congênita). Sem tratamento a doença progride, ocorrendo muitos estágios reconhecidos. No primeiro estágio, pode aparecer feridas que geralmente são indolores, e por conta disso, é facilmente passada despercebida, esta ferida dura de 3 a 6 semanas e cura independentemente de haver ou não tratamento, o tratamento adequado visa que a doença avance para os demais estágios.
Durante o estágio secundário, o indivíduo pode ter erupções na pele e ou feridas em sua boca, vagina ou ânus, a erupção possui uma coloração vermelha ou castanho avermelhada nas palmas das suas mãos e/ou dos pés. A pessoa pode apresentar outros sintomas como: febre, gânglios linfáticos inchados, dor de garganta, perda de cabelo, dores de cabeça, perda de peso, dores musculares, e fadiga. Sem o tratamento adequado, a infecção vai passar para as fases latentes e possivelmente tardias da sífilis.
Sem o tratamento, a pessoa pode continuar a ter sífilis em seu corpo por anos sem quaisquer sinais ou sintomas. Cerca de 10-30 anos após o início da infecção, os sintomas da fase tardia da sífilis incluem dificuldade em coordenar os movimentos musculares, paralisia, dormência, cegueira e demência. Nas fases tardias da sífilis, a doença danifica os seus órgãos internos e pode resultar em morte. Atualmente, raramente os casos de sífilis progridem até esse estágio.

Era uma doença fatal, até o desenvolvimento da penicilina* em 1928 que foi descoberta de forma acidental por Alexander Fleming, médico bacteriologista.
* A penicilina é obtida através de um fungo do gênero Penicilium, é geralmente eficaz contra espécies de StreptococcusClostridiumNeisseria. É utilizada em casos de meningite bacteriana, pneumonia, faringite, sífilis, gonorreia, otite e algumas infecções da pele. A penicilina já não é a primeira escolha em infecções por Staphylococcus devido à resistência desse gênero (quem nunca tomou benzetacil!?!?).
Gonorréia – causada por uma bactéria chamada Neisseria gonorrhoeae. Os homens percebem a infecção gonorreica pela dor ao urinar e eliminação de corrimento amarelado pela uretra. O período de incubação é bastante curto, de apenas alguns dias; a maioria mostra sintomas em menos de uma semana. Em homens e mulheres, a gonorreia não tratada pode se disseminar e se tornar uma doença sistêmica grave. Complicações da gonorreia podem envolver as articulações,como joelhos, o coração (endocardite gonorreica), os olhos, a faringe e outras partes do corpo. A mãe pode transmitir ao bebê no momento do parto pelo canal vaginal e se infectar os olhos do bebê pode deixá-lo cego.
O aumento da atividade sexual com múltiplos parceiros e o fato de que a doença na mulher pode não ser reconhecida facilmente contribuem para esse aumento da incidência desta e de outras DSTs. O uso de contraceptivos orais também contribuiu para esse aumento, pois, frequentemente substituem os preservativos que ajudam a prevenir a transmissão de doenças.
Clamídia – É uma infecção causada pela bactéria Chlamydia trachomatis. Não é fácil o diagnóstico da clamídia uma vez que os sintomas nem sempre são aparentes. Mas quando eles ocorrem, eles geralmente são perceptíveis dentro de 1-3 semanas de contato e pode incluir o seguinte: Corrimento vaginal anormal que pode ter um odor, dor abdominal com febre, dor ao ter relações sexuais, ardência ao urinar, coceira, dor nos testículos. O tratamento é feito à base de antibióticos orais, normalmente azitromicina, o(a) parceiro(a) também deve ser tratado para evitar a reinfecção e uma maior propagação da doença. Clamídia não tratada pode desencadear problemas mais sérios de saúde como Doença Inflamatória Pélvica (infecção das tubas uterinas em mulheres), inflamação na próstata e no epidídimo (nos homens), até mesmo  infertilidade.
Lembrando que na suspeita de uma DST, a pessoa deve procurar um médico especializado como ginecologista, urologista ou infectologista para as devidas orientações e a realização do tratamento correto.


sexta-feira, 15 de maio de 2015

A cadeia de males do DDT

Centenas de milhões de anos foram necessários para produzir a vida que habita na Terra, algumas vidas foram extintas, outras se desenvolveram, evoluíram, se estendendo por todos os continentes até que alcançassem um estado de equilíbrio com o meio ambiente.
O homem, porém, é o único ser capaz de destruir, ás vezes, de modo irremediável o meio ambiente. Como pode a raça humana, seres inteligentes produzirem substâncias, venenos tão potentes capazes de não só matar “pragas”, mas, contaminar tudo à sua volta e causar a morte da sua própria espécie.
Milhares de substâncias químicas são sintetizadas todos os anos em laboratórios e liberadas no ambiente, os animais e as plantas e nós seres humanos entramos em contato com elas e ninguém sabe os efeitos a longo prazo.
Quando tais compostos químicos foram produzidos com o intuito de matar “pragas” de lavoura, não esperavam que ali naquele ecossistema a teoria de Darwin relativo à sobrevivência dos mais fortes pudesse conferir às pragas maior resistência ao “veneno”, resultando na necessidade de sintetizar substâncias químicas ainda mais potentes e até mesmo, letais. A aniquilação de pragas com pesticidas trouxe ao meio ambiente um dano imprevisível, pois, tais compostos podem se acumular nos tecidos dos animais, uma vez que a maioria é lipossolúvel, ou seja, possuem afinidade com o tecido adiposo e possuem a propriedade de se acumularem ao longo da cadeia alimentar prejudicando todos os animais sobretudo, os predadores do topo da cadeia.
Chamamos de poluentes orgânicos persistentes (POPs) as substâncias químicas orgânicas resistentes à degradação biológica, apresentando efeitos cumulativos e deletérios ao meio ambiente. Os POPs mais conhecidos são os pesticidas do grupo dos organoclorados, destacando-se o dicloro-difenil-tricloroetano (DDT), considerado uma das substâncias sintéticas mais utilizadas e estudadas durante o século XX. As propriedades inseticidas do DDT foram descobertas em 1939, quando passou a ser adotado no combate à malária. Também foi utilizado na Segunda Guerra Mundial para a prevenção de tifo em soldados; além de fazer parte do controle de outras doenças tropicais, como a leishmaniose visceral. 
Em função de sua grande eficiência e baixo custo, em meados da década de 1940 o DDT passou a ser largamente utilizado na agricultura e na pecuária, combatendo pragas que prejudicavam a produção. Só os Estados Unidos produziram mais de 80 mil toneladas/ano de DDT no início dos anos 1960, até que surgiram, nessa mesma década, os primeiros indícios de que se tratava de um grave poluente! A primeira manifestação contra o uso indiscriminado do DDT foi em 1962, com o célebre livro Primavera silenciosa, de Rachel Carson. A autora sugeriu que esse poluente seria a principal causa da redução populacional de diversas aves, muitas delas de topo de cadeia, como a águia-calva (símbolo dos EUA) e o falcão-peregrino. 
Mais tarde, atribuiu-se ao DDT graves efeitos sobre o homem e vários outros animais, como: câncer (fígado, pâncreas), lesões renais, supressão imunológica, deficiência reprodutiva, atuação sobre o sistema nervoso central, provocando alterações de comportamento, distúrbios sensoriais, convulsões, risco de Alzheimer, paralisia e até mesmo a morte dependendo da dose e do tempo de exposição. Além disso, as substâncias nocivas têm a possibilidade de serem transmitidas pelo aleitamento materno, podendo comprometer diretamente as condições de saúde da geração seguinte, mesmo que o contato mais direto com o agrotóxico deixe de existir.
Além da acumulação nos tecidos, os POPs são transportados através de correntes atmosféricas e oceânicas por longas distâncias, podendo atuar bem longe de sua fonte. Resíduos de DDT e outros organoclorados são encontrados nas regiões mais remotas da Terra, como em altas altitudes nos Andes ou mesmo nos pólos.

O DDT foi banido na década de 1970 dos Estados Unidos e no Brasil, só em 2009 o DDT teve sua fabricação, importação, exportação, manutenção em estoque, comercialização e uso proibidos.
Muitos trabalhadores rurais foram expostos ao DDT sem nenhum equipamento de proteção durante a década de 90, hoje já doentes lutam na justiça para serem indenizados. Muitos infelizmente, não estarão presentes quando sair a indenização, é triste aqui é Brasil, a justiça tarda e às vezes falha.